Um dos maiores homens da América Latina

Um dos maiores homens da América Latina
Salvador

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Aula de aluno

A situação do ensino público em São Paulo vem se deteriorando não é de hoje. Faz tanto tempo de governo tucano que perdemos a noção para fazermos qualquer comparação. A única possível é com a prefeitura, mas lá são outros quinhentos que não caberia aqui e nem seria pertinente. O descaso tem como efeito adoecer a cabeça dos professores, literalmente. No entanto não é sobre os professores que quero falar aqui. Quero falar sobre os principais interessados na Educação, aqueles que sem os quais não existiríamos, os estudantes e pais de estudantes.
A mídia nos mostra constantemente casos de alunos surtando em sala de aula, agredindo professores e sendo ridicularizados pelo seu mau Português, pelo desempenho e pelo desrespeito para com os seus mestres. Tiram a culpa das escolas ruins e jogam a culpa na “falta de respeito que ...”, “no meu tempo...”, “tinha que expulsar”, ‘recebem tudo”, etc, etc, os professores são os maiores divulgadores dessas excrescências verbais, não percebem que estamos na mesma barca e se tem algum aliado na Educação, estes aliados são os alunos e deveriam ser também os seus pais.
O que esperar de um jovem massacrado dia e noite pela cultura de massas? O que esperar de um jovem que passa seis horas dentro de uma escola padrão séc. XlX? O que esperar de um jovem que percebe a opressão e truculência dos responsáveis pela escola diante dos seus anseios de descobrirem o novo mundo, a nova vida e saberes que se descortinam à sua frente.
Pergunto e respondo. Esperam cordeirinhos prontos para o abate, esperam que aceitem serem subjugados, esperam obediência total ao sistema como fazem a maioria dos professores dizendo amém ao seu opressor. Professores que estão tomando a lição que eles não deram aos seus alunos. Professores que sempre lhes ensinaram como serem covardes, a furarem greves, a não serem solidários e a puxar o saco dos diretores (alguns sem competência nem para gerir uma barraca de pastel). Os alunos estão dando aula e se forem cobrar uma prova de seus professores estes tirarão zero.
Em Americana a direção de uma escola sentiu o sabor amargo de ver seus alunos se rebelarem contra o autoritarismo de sua gestão e em defesa de sua professora de Sociologia desligada da escola DOIS DIAS ANTES DO ENEM. Contra a postura inflexível da escola frente ao atraso dos alunos, contra a decisão unilateral tomada pela gestão para acabar com as salas ambientes, contra a perseguição política perpetrada contra alunos que tornam públicas as críticas à direção da escola. Privam seus alunos do direito de assistirem aulas, além de diversos casos de constrangimento ilegal de menores, (ECA, artigo 232). No dia da dispensa da referida professora, no momento em que esta entrara na escola pra buscar suas coisas, os alunos foram pegos de surpresa e imediatamente manifestaram-se em defesa da professora Juliana: sentados no chão do pátio, recusaram-se a entrar pra sala de aula e em meio a gritos de ordem como “fica Juliana”, “escola privatizada” e “não vai ter SARESP” forçaram um esboço de assembleia estudantil com a presença da gestão escolar. Na primeira segunda-feira após a dispensa da professora, metade dos alunos se organizaram num ato em frente à escola pra dar visibilidade às suas causas, nesse dia eles não entraram na escola e fizeram na rua uma aula de cidadania. Após o ato ventilou-se entre os alunos a promessa de um ponto na média bimestral (estímulo à canalhice) para aqueles que não aderiram à manifestação, isso porque o ato dos alunos teria exposto a imagem da escola negativamente perante a cidade (vale lembrar que um jornal local esteve cobrindo o ato e publicou matéria sobre o ocorrido no dia seguinte com destaque logo na capa). A repercussão da movimentação dos alunos da escola João XXIII espalhou-se pela cidade, foi o estopim. Semanas depois alunos de outras escolas da diretoria regional de ensino também foram às ruas demonstrar sua insatisfação em relação a política educacional, e especialmente, contra a reorganização escolar imposta pelo governador Geraldo Alckmin, foram reprimidos violentamente. Circula também entre os alunos a informação de que boa parte dos professores e gestores tem se esforçado para destruir a imagem da professora perante os alunos, aula a aula, dia após dia o assunto tem sido trazido à baila pelos adultos sem qualquer necessidade ou relação com aprendizagem dos conteúdos curriculares. Ao contrário, o pedagógico tem sido negligenciado há tempos: a antecipação da demissão (prometida para o fim do ano letivo) faltando dois dias para o ENEM desestabilizando os alunos emocionalmente, a ausência de professor especialista para as aulas de Sociologia até o fim do ano, o tempo gasto em todas as aulas para empreender um discurso pronto e encomendado cujo objetivo é deslegitimar o movimento dos alunos e suas críticas, bem como responsabilizar a professora Juliana pelos conflitos entre alunos e gestores. Tem se falado em manipulação ideológica e partidária, uso político das manifestações dos alunos, discurso sorrateiro... desconsiderando o contexto maior que se evidencia com ocupações de alunos em escolas por todo o estado de São Paulo, desconsiderando especialmente a capacidade de pensar e a autonomia dos próprios alunos. Tudo isso deixa dúvida sobre quais são as reais prioridades e princípios desses profissionais que apenas mostraram qualquer indignação com a falta de educação em uma foto onde os professores, vestidos de preto, reclamavam que o Governador parcelou seus bônus em duas vezes (alguns chegando próximo a 20 mil reais!!!). Essa foto foi publicada no mesmo jornal. A professora se recusou a aparecer (teve que faltar para não ser coagida). Tudo isso com a conivência da Supervisora e da Dirigente de ensino da cidade.
Essa é a preocupação de certos diretores de escola hoje em dia: bônus, bônus, bônus! Não importa como, mas, bônus, bônus, bônus... Lembrando que essa lógica inibe a participação dos professores nas suas lutas. Professor que faz greve não tem bônus. Este ano não teve aumento. O secretino da Educação e o desgovernador passaram 90 dias, 90 DIAS dizendo que daria o aumento em junho! Foi a primeira vez na história das relações trabalhistas que o NÃO aumento veio parcelado em duas vezes: 0% antes e 0% depois de 90 dias.
E os heróis da resistência reclamando do parcelamento do seu bônus de 20 mil reais em plena greve dos professores do Estado!! Todo esse processo, meticulosamente estudado, faz parte desses 20 anos de desgoverno. 
Gostaria que os pais dos alunos de todo o Estado de São Paulo, não só de Americana, se preocupassem um pouco mais com o que acontece com seus filhos no ambiente escolar. A participação dos pais se posicionando nas escolas é de crucial importância para a saúde mental e escolar dos seus filhos.
E nossos meninos não recebem bônus, só querem estudar.


Nenhum comentário: