A situação do ensino público em São
Paulo vem se deteriorando não é de hoje. Faz tanto tempo de governo tucano que
perdemos a noção para fazermos qualquer comparação. A única possível é com a
prefeitura, mas lá são outros quinhentos que não caberia aqui e nem seria
pertinente. O descaso tem como efeito adoecer a cabeça dos professores,
literalmente. No entanto não é sobre os professores que quero falar aqui. Quero
falar sobre os principais interessados na Educação, aqueles que sem os quais
não existiríamos, os estudantes e pais de estudantes.
A mídia nos mostra constantemente
casos de alunos surtando em sala de aula, agredindo professores e sendo
ridicularizados pelo seu mau Português, pelo desempenho e pelo desrespeito para
com os seus mestres. Tiram a culpa das escolas ruins e jogam a culpa na “falta
de respeito que ...”, “no meu tempo...”, “tinha que expulsar”, ‘recebem tudo”,
etc, etc, os professores são os maiores divulgadores dessas excrescências
verbais, não percebem que estamos na mesma barca e se tem algum aliado na
Educação, estes aliados são os alunos e deveriam ser também os seus pais.
O que esperar de um jovem massacrado
dia e noite pela cultura de massas? O que esperar de um jovem que passa seis
horas dentro de uma escola padrão séc. XlX? O que esperar de um jovem que
percebe a opressão e truculência dos responsáveis pela escola diante dos seus
anseios de descobrirem o novo mundo, a nova vida e saberes que se descortinam à
sua frente.
Pergunto e respondo. Esperam
cordeirinhos prontos para o abate, esperam que aceitem serem subjugados,
esperam obediência total ao sistema como fazem a maioria dos professores
dizendo amém ao seu opressor. Professores que estão tomando a lição que eles
não deram aos seus alunos. Professores que sempre lhes ensinaram como serem
covardes, a furarem greves, a não serem solidários e a puxar o saco dos
diretores (alguns sem competência nem para gerir uma barraca de pastel). Os
alunos estão dando aula e se forem cobrar uma prova de seus professores estes
tirarão zero.
Em Americana a direção de uma escola
sentiu o sabor amargo de ver seus alunos se rebelarem contra o autoritarismo de
sua gestão e em defesa de sua professora de Sociologia desligada da escola DOIS
DIAS ANTES DO ENEM. Contra a postura inflexível da escola frente ao atraso dos
alunos, contra a decisão unilateral tomada pela gestão para acabar com as salas
ambientes, contra a perseguição política perpetrada contra alunos que tornam
públicas as críticas à direção da escola. Privam seus alunos do direito de
assistirem aulas, além de diversos casos de constrangimento ilegal de menores,
(ECA, artigo 232). No dia da dispensa da referida professora, no momento em que
esta entrara na escola pra buscar suas coisas, os alunos foram pegos de
surpresa e imediatamente manifestaram-se em defesa da professora Juliana:
sentados no chão do pátio, recusaram-se a entrar pra sala de aula e em meio a
gritos de ordem como “fica Juliana”, “escola privatizada” e “não vai ter
SARESP” forçaram um esboço de assembleia estudantil com a presença da gestão
escolar. Na primeira segunda-feira após a dispensa da professora, metade dos
alunos se organizaram num ato em frente à escola pra dar visibilidade às suas
causas, nesse dia eles não entraram na escola e fizeram na rua uma aula de
cidadania. Após o ato ventilou-se entre os alunos a promessa de um ponto na
média bimestral (estímulo à canalhice) para aqueles que não aderiram à
manifestação, isso porque o ato dos alunos teria exposto a imagem da escola
negativamente perante a cidade (vale lembrar que um jornal local esteve
cobrindo o ato e publicou matéria sobre o ocorrido no dia seguinte com destaque
logo na capa). A repercussão da movimentação dos alunos da escola João XXIII
espalhou-se pela cidade, foi o estopim. Semanas depois alunos de outras escolas
da diretoria regional de ensino também foram às ruas demonstrar sua
insatisfação em relação a política educacional, e especialmente, contra a
reorganização escolar imposta pelo governador Geraldo Alckmin, foram reprimidos
violentamente. Circula também entre os alunos a informação de que boa parte dos
professores e gestores tem se esforçado para destruir a imagem da professora perante
os alunos, aula a aula, dia após dia o assunto tem sido trazido à baila pelos
adultos sem qualquer necessidade ou relação com aprendizagem dos conteúdos
curriculares. Ao contrário, o pedagógico tem sido negligenciado há tempos: a
antecipação da demissão (prometida para o fim do ano letivo) faltando dois dias
para o ENEM desestabilizando os alunos emocionalmente, a ausência de professor
especialista para as aulas de Sociologia até o fim do ano, o tempo gasto em
todas as aulas para empreender um discurso pronto e encomendado cujo objetivo é
deslegitimar o movimento dos alunos e suas críticas, bem como responsabilizar a
professora Juliana pelos conflitos entre alunos e gestores. Tem se falado em
manipulação ideológica e partidária, uso político das manifestações dos alunos,
discurso sorrateiro... desconsiderando o contexto maior que se evidencia com
ocupações de alunos em escolas por todo o estado de São Paulo, desconsiderando
especialmente a capacidade de pensar e a autonomia dos próprios alunos. Tudo isso
deixa dúvida sobre quais são as reais prioridades e princípios desses
profissionais que apenas mostraram qualquer indignação com a falta de educação
em uma foto onde os professores, vestidos de preto, reclamavam que o Governador
parcelou seus bônus em duas vezes (alguns chegando próximo a 20 mil reais!!!).
Essa foto foi publicada no mesmo jornal. A professora se recusou a aparecer
(teve que faltar para não ser coagida). Tudo isso com a conivência da
Supervisora e da Dirigente de ensino da cidade.
Essa é a preocupação de certos
diretores de escola hoje em dia: bônus, bônus, bônus! Não importa como, mas,
bônus, bônus, bônus... Lembrando que essa lógica inibe a participação dos
professores nas suas lutas. Professor que faz greve não tem bônus. Este ano não
teve aumento. O secretino da Educação e o desgovernador passaram 90 dias, 90
DIAS dizendo que daria o aumento em junho! Foi a primeira vez na história das
relações trabalhistas que o NÃO aumento veio parcelado em duas vezes: 0% antes
e 0% depois de 90 dias.
E os heróis da resistência reclamando
do parcelamento do seu bônus de 20 mil reais em plena greve dos professores do
Estado!! Todo esse processo, meticulosamente estudado, faz parte desses 20 anos
de desgoverno.
Gostaria que os pais dos alunos de
todo o Estado de São Paulo, não só de Americana, se preocupassem um pouco mais
com o que acontece com seus filhos no ambiente escolar. A participação dos pais
se posicionando nas escolas é de crucial importância para a saúde mental e
escolar dos seus filhos.
E nossos meninos não recebem bônus,
só querem estudar.